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Dois copos de mungunzá, por favor!

Arapiraca, 06 de fevereiro de 2024

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Fotos: Nide Lins


Foi a primeira vez que via o sobrinho doente, de cama, desde que virou adulto. A tal da covid havia acometido-o e, se não fosse a segunda dose da vacina, não sabia nem qual seria o seu destino. Depois de uma semana doente, sozinho, em sua casa, resolveu ir para sua cidade, onde estaria mais seguro, pelo menos emocionalmente. Foram dias de muita febre, sem sentir cheiro e gosto, praticamente sem se alimentar. Do banheiro para cama.


Depois de uma verdadeira operação de "guerra', conseguiu, enfim, estar em casa, com seu tio. Tinha o receio de transmitir o vírus para ele; por isso, pediu para que esse se abrigasse por instantes na cozinha, enquanto ele passava para o quarto. Solicitou que se separarem pratos, talheres, copos e xícaras para eventuais refeições. Um pouco mais forte, acreditava que conseguiria se alimentar. Mas o vírus o tinha pego com jeito, e nada da vontade de comer chegar.


Mais uma semana no quarto, seu tio na sala vendo televisão, nos primeiros dias da convalescença do sobrinho se manteve calado, deixando transparecer no silêncio a sua preocupação.


O distanciamento era uma das defesas fundamentais para tentar se evitar a transmissão do vírus; mas o silêncio e a preocupação foram rompidos quando ele, impaciente, tentou invadir o quarto onde o sobrinho estava, mas foi abruptamente afastado.


A decepção ficou estampada no rosto do tio. Mas ouviu do sobrinho que estava ficando bem (não tinha muita certeza, mas queria tentar tranquilizá-lo) e logo, logo eles poderiam voltar a ficar próximos, se abraçarem e se trombarem dentro de casa.


Depois que quase tudo havia passado, o tio abriu um sorriso no rosto quando ambos escutaram o "sininho" do mungunzá que passava na rua, e ouviu do sobrinho que, sim, queria um copo do alimento docinho de milho.


Aquele sim foi como um bálsamo para ambos; o tio sorriu, gritou pelo homem do mungunzá, pediu dois copos, sentaram-se na sala e foram ver novela, como quase sempre faziam juntos.


A vida voltava ao normal.

 
 
 

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