EDITORIAL - Quantas valem um engajamento e mais reais na conta?

Arapiraca, 27 de dezembro de 2023

Fake News e ataques de ódio. Esse foi o enredo que, infelizmente, fez a jovem Jéssica Vitória Canedo, 22 anos, tirar a própria vida, na última sexta-feira (23). Ela foi vítima de uma página de fofoca após ter prints (FALSOS) de uma conversa (QUE NUNCA OCORREU) com o humorista Wihindersson Nunes.

A principal página responsável pela desinformação nas redes sociais possui quase 21 milhões de seguidores. De 2 milhões a 7 milhões de visualizações em reels, milhares de curtidas diariamente.

Páginas como essa se reproduzem dentro da lógica perversa da necessidade por curtidas, visualizações, engajamento: por trás disso, a sanha por dinheiro, acesso livre a eventos, o famigerado “recebidos”, “fama”...

Não somente, nós, os seguidores, temos responsabilidade pela ascensão desse tipo de página, que também é feita por perfis pessoais; eles vão da exposição de pessoas banguelas, com visíveis problemas mentais, a crimes contra urnas eleitorais, ambientais, exposição de mulheres como Jéssica Vitória.

Empresas Brasil afora optam pelo apoio a perfis criminosos que recebem apoio publicitário, revertido em grana na conta, e monetização das próprias redes sociais. É um modelo perverso que tem transformado a sociedade em um esgoto a céu aberto. Vale-tudo por dinheiro. Projeto de Lei número 2630/2023, proposto pelo governo federal, está no Congresso para ser provado. A oposição é contra. Alega que o PL fere a liberdade de expressão.

Mas a morte de Jéssica Vitória reacende o debate e vai forçar a Câmara dos Deputados e Senado a voltar a discutir o tema. Jéssica sofria de depressão. Whindersoson Nunes se pronunciou e pediu a criação da Lei Jéssica Vitória para o combate de fake News.

Este perfil é feito por jornalistas e, apesar de trabalhar para ter seu lugar de referência como veículo de informação para a sociedade, opta, sempre, pela notícia checada na fonte, confirmada pelas autoridades eventualmente envolvidas no caso. É fato que é desleal a concorrência com perfis sensacionalistas, feitos por pessoas para quem a ética, principalmente ela, é palavra em desuso.

A culpa pelo caos que são as redes sociais é de todos nós. Mas ainda há tempo para rever critérios e referências, para reanalisar o que seguimos e o que compartilhamos em nosso dia a dia.

Jéssica Vitória não voltará para sua mãe, sua família e amigos. Mas, se de fato estivermos consternados com a morte perversa dela, patrocinada pelas redes sociais, podemos evitar que outras dessa natureza aconteçam.

O Eh de Arapiraca mantém esse compromisso. E você?