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Generosidade: seu nome era Professor Pereira




Quem torce pelo ASA, via de regra, conhecia ou já tinha ouvido falar no Professor Pereira. Afinal, apaixonado pelo Gigante de Alagoas que era, enfrentou tudo o que havia pela frente e, ao lado do saudoso jornalista Lautenay Perdigão, juntou documentos que provaram, fora do campo, que o ASA foi campeão Alagoano de 1953, o primeiro título da história do clube.


Eu estava entre aqueles que só tinham ouvido falar dele, meus amigos mais próximos sempre me contaram sobre a maneira como ele cultivava dois amores que nos são caros: ASA e Arapiraca. Acima de tudo, eram unânimes em descrevê-lo como um homem generoso. Eu pude, depois, conviver, mesmo que em raras vezes, com o Professor Pereira.


Jornalistas vivem às voltas com desemprego, com "frilas" e, em um desses momentos de transição, tive que entrevistar o professor, no Cesmac, onde foi diretor e docente. Para minha surpresa, ele me conhecia dado o fato de eu ser filho de um ex-jogador do ASA, da década de 1970, o goleiro Milano.


Na sala de Pereira no Cesmac, ASA e Arapiraca nos punham como amigos de longa data - só quem é de Arapiraca e torce pelo Gigante pode entender o que ambos significam -; ao fim da entrevista, me perguntou onde estava trabalhando, e expliquei que, naquele momento, havia acabado de perder o trabalho, tendo em vista a falência de O Jornal, onde trilhei minha trajetória profissional por longos oito anos - do estágio à venda da máquina rotativa, a alma do impresso.


Um pouco constrangido, logo tratou de me animar, dizendo que tudo ficaria bem. Despedimo-nos, desejamos tudo de bom para nossas paixões e seguimos cada um o destino que nos reservava o universo.


No dia seguinte, vejo o nome do Professor Pereira em uma ligação telefônica dele para mim. Estranhei, mas imaginei que havia deixado de me informar algo de importante para a matéria. Atendo e, do outro lado da linha, escolhendo as palavras, com a maior preocupação de não me constrager, a voz meio que hesitante, brincou (para quebrar o clima) que não tinha muito dinheiro, mas que havia "juntado um valor, módico, e que gostaria que aceitasse para atravessar aquela fase cinza da vida".


Espero que não soe como que resumo a generosidade do Professor Pereira ao fato de me oferecer dinheiro; entendam que a partir do momento em que nos despedimos, no dia anterior, no Cesmac, ele passou a maquinar formas de me ajudar, ele teve empatia, virtude bem em falta no ser humano nos dias de hoje, até em alguns mais próximos de nós.


Ambos ainda na ligação, ele medindo minha reação quanto à oferta, eu mais que de queixo caído com a aquela mão estendida como se fora um pai, quase não respondo porque um misto de alegria, surpresa, até uma tristeza que não sei explicar, tomou conta de mim naquele momento, que nunca vai sair do meu coração. Quando me recuperei da susto, agradeci, não consegui disfarça a voz embargada pela emoção, e disse a ele que se as coisas ficassem mais complicadas, certamente, recorreria a ele e aceitaria o dinheiro.


Além de generoso, Professor Pereira era um homem forte: recuperou-se duas vezes de um câncer, mas a segunda foi seguida da Covid-19, contra a qual ele lutou, mas sucumbiu e, na última quarta-feira, trocou o fardo pesado da matéria pela sutileza do espírito, no caso dele.


Quando se recuperou do segundo câncer, liguei para ele e me disse que estava curado, forte e disposto. Fiquei muito feliz. Ainda longe da UTI do hospital, usou o telefone para conversar com nosso amigo Paulo de Tarso e saber como estava a o ASA, resultado do jogo etc...


É, professor, daquele telefonema onde o senhor me estendeu uma improvável mão para cá, algumas coisas mudaram, outras seguem parecidas, eu mudei, mas só uma coisa manteve-se intacta até seu último instante entre nós: sua generosidade.


Fique tranquilo, Professor Pereira! Por aqui, seguiremos lutando e cuidando do nosso ASA e de nossa Arapiraca.


Até, amigo!


P.S: Posto, abaixo, link do episódio documentário "Raízes de Arapiraca" com Professor Pereira, para quem se interessar em saber um pouco da história dele.



 
 
 

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