Um Habeas Corpus preventivo
- ehdearapiraca.com.br
- 12 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de jan. de 2022
Costumava dizer que havia coisas (exdrúxulas, curiosas, quase ficção) que só aconteciam comigo. Deixei essa pretensão de lado.
Nossos nomes possuem 21 letras e entre as 21 apenas uma não se repete. É desses casos raros de homônimos. E que aconteceram comigo.
Nesse tipo de situação, reconheço, quando os caminhos dos homônimos se encontram é quase impossível não restar um mal-entendido, uma confusão de identidade, algo do tipo, qual dos dois se escreve com A, com E...
Mas quando a situação envolve cometimento de crime não pode haver confusão, não deve pairar dúvida... Pior ainda é se o erro for cometido por polícias e Justiça.
Em 2008, um dia depois do meu aniversário, fui surpreendido com meu nome em Boletim de Ocorrência comigo "preso" por porte de arma, 40 frascos de loló e suspeito de integrar uma quadrilha que comercializava entorpecentes, em Arapiraca.
O grupo foi preso e apresentado em imagem à imprensa local. Preciso dizer que não estava na foto que alguns portais divulgaram? Preciso sim. Porque, apesar de não ser eu nenhum dos cinco detidos, lá estava meu, com 21 letras, como um dos criminosos. Luciano Raimundo Milano, 32 anos.
Mas meu homônimo, esse sim, estava na foto, preso pelos crimes atribuídos a ele e ao grupo ao qual a polícia o vinculava.
Na ocasião, fui acordado por minha família porque, além dos nomes quase iguais, o homônimo também é de Arapiraca, e o pessoal lá em casa ouviu em rádios da cidade meu nome como criminoso. Imaginam a confusão, não é mesmo?
Também fui questionado pelo editor geral do jornal que eu trabalhava sobre o que havia acontecido.
Cheguei a fazer contato com colegas em redações de sites, expliquei a situação e solicitei a retirada do meu nome da matéria. Em vão. Doze anos depois, a matéria segue intacta me incriminando por algo que não fiz.
Tão absurdo quanto a polícia divulgar meu nome no Boletim de Ocorrência foram os colegas daquele portal de notícia, sabendo quem em sou e me ouvindo pedir para retirar meu nome do texto porque aquilo era um equívoco se recusar a fazê-lo. E não fazê-lo.
Ano passado, 12 anos depois, fui surpreendido com uma intimação da Justiça de Alagoas após indiciamento feito pela Polícia Civil também de nosso estado.
Não me dei conta no começo, mas meu homônimo havia agido novamente e eu pagava, mais uma vez, não só pelo crime do homônimo, mas pela falta de cuidado das autoridades que fizeram a ocorrência, em flagrante, e que a remeteram à Justiça.
O infrator inveterado havia sido preso depois de tentar invadir, ameaçar e agredir uma família que mora na Barra de São Miguel. No dia do ocorrido, eu estava em Arapiraca. Mas no BO, na intimação da Justiça alagoana, estavam mais uma vez meu nome completo, RG, CPF e obviamente meu endereço residencial onde chegou a intimação para audiência virtual, com juiz e a "minha vítima".
Apreensivo, o rapaz que foi alvo das agressões e ameaças logo afirmou em juízo que eu não era a mesma pessoa que havia cometido os crimes. Óbvio. O processo parou por ali. Mas meu homônimo continua vivo: semana passada eu estava no Bosque das Arapiraca, sentado e contemplando o ir e vir das pessoas, quando ele passou em minha frente.
Espero que não. Mas se um dia ocorrer algo mais grave, como uma morte que o envolva, eu, Luciano Raimundo Milano, posso ser preso e ter minha vida destruída pela falta de cuidado de quem é pago para não condenar inocentes.
Espero que esse texto, esse registro sirva como uma espécie de Habeas Corpus preventivo para mim mesmo.






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